Considerando a conjuntura do Chile, a rebelião social detonada pelas mãos de milhares de jovens valentes em outubro de 2019, e a transferência da COP25 para Madrid, os movimentos sociais decidiram manter a Cúpula dos Povos, resultado de um processo de meses de organização. E com a cúpula, se instala a Tenda das Mulheres. Foi assim que, durante a semana de 2 a 6 de dezembro, a Tenda das Mulheres foi erguida na Cúpula dos Povos e no marco da COP25. Um espaço gestado em conjunto com outras organizações feministas e de mulheres, entre elas a Red Chilena Contra la Violencia Hacia las Mujeres, o Comité Socioambiental da Coordinadora 8 de Marzo, o Movimiento por el Agua y los Territorios (MAT), o Observatorio Latinoamericano de Conflictos Sociales (OLCA), Colectivo Viento Sur, ANAMURI, a Fundação Heinrich Böll e a Marcha Mundial das Mulheres. A Tenda foi um espaço erguido para assegurar nossa presença e o olhar feminista na discussão sobre a crise climática que atravessamos como humanidade, mas também para assegurar visibilidade aos processos de resistência e alternativas que estão sendo criadas e levadas a cabo em todo o território nacional e em Nossa América. Para realiza-la, contamos com a presença de nossas companheiras marchantes da região e de diversas organizações que apresentaram suas realidades diante da mudança climática e as alternativas que estão desenvolvendo para combater esta crise. Uma crise que nada mais é do que consequência do sistema capitalista-patriarcal, há anos depredador de nossos corpos e territórios. Começamos com uma assembleia de mulheres e feministas que nos permitiu informar umas às outras sobre nossas tarefas e sentimentos diante da revolta social e conhecer e compartilhar as experiências de organização das diferentes companheiras que viajaram desde outros territórios e países. Realizamos um Tribunal Ético no qual ouvimos distintas vozes de denúncia, desde os estragos causados pela agroindústria da soja no Paraguai, passando pelo feminicídio empresarial de Macarena Valdés e finalizando com a busca de Justiça pelo lesbofeminicídio de Nicole Saavedra. Debatemos sobre economia feminista e refletimos em conjunto com a CLOC-Via Campesina sobre as alternativas que surgem das mãos camponesas para desaquecer o planeta. Ouvimos as vozes e experiências das mulheres recicladoras da região, que realizam um trabalho maravilhoso e imprescindível. Finalizamos conversando sobre a violência estrutural que vivemos cotidianamente como mulheres, migrantes, trabalhadoras, camponesas feministas, estudantes e indígenas. O difícil e complexo que é ser mulher nesses contextos de crise política e climática, concluindo que é urgente entrarmos em acordo e construir movimento. Nos dias em que aconteceu a Tenda, resgatamos as alegrias, os risos, a música, a criação artística pelas mãos de diversas mulheres, que nos acompanharam toda a semana. Acreditamos que este processo reforça nossa convicção de que os caminhos se constroem com afeto, respeito e desde nossos sentires. Foi sem dúvida uma semana plena de aprendizagens pela voz de quem está resistindo, daquelas mulheres e comunidades que no dia a dia lutam por sua permanência e existência e que, em coletivo, vão criando alternativas que nos dão uma auréola de esperança de que outro mundo é