Um dos sucessos da Marcha Mundial das Mulheres como organização global é que ela tem mantido processos e agendas de luta no contexto da pandemia. Isto sem dúvida exigia uma organização com estruturas flexíveis que fossem adaptáveis às mudanças e, acima de tudo, abertas a se reinventar diante da adversidade. Um desses projetos que teve que ser reinventado foi a Escola Internacional para a Organização Feminista Berta Cáceres (IFOS). Durante meses, a IFOS reuniu mulheres de 38 países para trocar experiências e compartilhar conhecimentos. A escola foi o lugar onde nos reunimos para continuar as discussões do movimento, incluindo uma leitura coletiva do "novo normal" que foi imposto como uma co-narrativa da pandemia. A IFOS foi aquele espaço e tempo em que tivemos coletivamente a oportunidade de construir visão intersetorial da vida e experiências de luta do movimento feminista popular e de base, num momento em que o chamado à imobilidade, para ficar em casa e nos isolarmos dos coletivos era constante. Mas a IFOS foi também um lugar e um momento para renovar sonhos e projetos como o de uma escola de formação para o continente de Nossa América ou nossa Abya yala. Assim foi: muitos encontros continentais, muitas reuniões presenciais e virtuais tiveram como agenda a construção de um espaço de formação que fomentasse vínculos, um senso de pertencimento e identidade e, em suma, que fizesse a Marcha crescer no continente a partir de um pensamento crítico de sua militância, o que só é possível quando cultivamos a consciência de nossas opressões tanto quanto a consciência do poder que temos para transformá-las. Tornou-se muito mais fácil tornar o projeto da Escola Feminista Berta Cáceres MMM Américas uma realidade a partir da experiência da IFOS e com materiais como o Guia IFOS e seu kit de ferramentas pedagógicas (https://ggjalliance.org/IFOSGuidebook/). A Escola Feminista Berta Cáceres MMM Américas é um espaço onde mulheres e dissidentes de todas as regiões do continente se encontram duas vezes por mês para reconhecer a diversidade e pluralidade que somos, e para compartilhar os sentimentos e pensamentos de nossas lutas territoriais. É um processo de treinamento para a ação que surge para traçar uma estratégia comum contra o capitalismo, o patriarcado e o colonialismo, num momento em que parecem reforçados pela covid-19 e pelo desdobramento repressivo que foi dado com o pretexto de controlar o contágio. A Escola regional nos reúne em nossa diversidade, nos conecta como Caribe e terra firme, como povos indígenas e afrodescendentes, como mulheres do campo e da cidade, como dissidentes da heteronorma para continuar marchando até sermos todas e todes livres.