Éditorial Comunicação feminista e popular | Temos boas notícias: somos muitas!
O Boletim das Américas completa cinco anos, e nessa conta podemos adicionar tantos outros anos da construção dessa ideia, em diversas reuniões regionais e internacionais nas quais nossas reflexões sobre nossos contextos de vida e de luta, acordos sobre nossas ações, sempre apareciam dois projetos como estratégia de articulação: formação e comunicação feminista e popular. Felizmente podemos afirmar que ambos se concretizaram. Mas por que a necessidade de desenvolver nossa própria comunicação e considerá-la uma estratégia para o nosso movimento? Todos os dias vemos, ouvimos e sofremos as consequências dos meios de comunicação que fazem parte dos poderes corporativos transnacionais, que reproduzem e sustentam o sistema de múltiplas opressões que pisoteia nossos corpos e territórios. Nas mãos dos poderes corporativos e das oligarquias nacionais, os meios de comunicação impõem visões de mundo, homogeneizam nossas culturas, simplificam e distorcem nossas lutas e invisibilizam nossas propostas e nossas próprias referências. Nesse contexto de ditadura comunicacional, levantar nossas vozes em toda a nossa diversidade, tomar a palavra e se apropriar das ferramentas de divulgação é um ato político e revolucionário, esse é o nosso entendimento na Marcha Mundial das Mulheres (MMM) das Américas. No texto do Capire “Para começar a conversar sobre comunicação popular”, Azul Cordo, Mercedes Eguiluz e Valentina Machado nos lembram que: "Precisamos de muitas fotos (e então, de muitas vozes), em movimento, de diferentes tipos e formatos, porque as verdades únicas negam, entre tantas coisas, a diversidade dos territórios. Essas imagens são transmitidas através das rádios comunitárias e alternativas por meio das vozes das lutadoras que defendem os territórios todos os dias e pensam soluções alternativas”. Nós podemos afirmar que tanto o Capire quanto esse boletim são parte dessas alternativas coletivas. (https://capiremov.org/experiencias/para-comecar-a-conversar-sobre-comunicacao-popular/ ). E nosso compromisso na marcha vai além da comunicação popular. Para nós, não basta só a comunicação popular, é preciso colocar em prática a comunicação popular e feminista, a qual definimos como uma prática coletiva e militante para a transformação, na qual divulgamos nossas agendas políticas, nossas mobilizações e debates protagonizados pelas companheiras que sustentam as lutas e nossa organização nos territórios. Como disse ao Capire a editora da revista feminista Pikara Magazine (https://www.pikaramagazine.com/), María Angeles Fernández: “Acredito muito no jornalismo como uma ferramenta de contrapoder, que questiona todos os setores do poder econômico, patriarcal e racista. Por isso, acredito que o jornalismo feminista é um jornalismo melhor: porque ele amplia a visão e as críticas ao sistema, amplia as perguntas e os horizontes" (https://capiremov.org/entrevista/jornalismo-economia-feminista-e-digitalizacao-a-experiencia-da-pikara-magazine/). No final de junho, nós, da equipe do Boletim das Américas, demos mais um passo nesse sentido ao realizar a primeira oficina de formação interna de comunicação para as integrantes. Nesse espaço, compartilhamos com a equipe editorial, ampliada no último encontro continental na Guatemala, ferramentas técnicas do jornalismo e etapas de construção do boletim e propusemos uma reflexão crítica sobre qual comunicação queremos e precisamos na Marcha para transformar o mundo, para apoiar nossas lideranças e nossas resistências. Continuaremos escrevendo, ecoando nossas vozes em microfones e megafones e registrando nossas fotos e vídeos até que todas sejamos livres. Para saber mais sobre feminismo e jornalismo, leia (em espanhol): https://latfem.org/manifiesto-somos-periodistas-y-feministas/